passar.
a gente nem
viu o tempo
-
-
1.
silêncio é quando
não ouço seu nome.2.
nossos corpos no escuro
se enxergam ainda mais.3.
vestir alguma pele
só faz sentido
se for pra tatear
o teu rosto.4.
teu cheiro é viciante demais,
garota.5.
pro meu gosto. -
te acho
uma perdição. -
faz um pernilongo tempo que te percevejo, pequena Ana. mas sei que moça tão libélula como você jamais teria olhos para um escaravelho como eu. por isso, esta carta barata pousa em sua pata. sem data. eis a declaração de afeto de um amoroso inseto. leia antes que a traça o faça. pois se o teu marido descobre tal ocorrido, será o fim deste pobre cupim. capaz d’ele pôr o formigueiro inteiro a procurar por mim. sendo assim, não te dou esperança de saber meu nome, paradeiro e muito menos o dia certo que o seu voo esperto me encantou. deixo dentro do seu ouvido apenas um apelido e, atrás da sua orelha, a dúvida de quem sou.
do seu admirador quase secreto,
jô. -
desde aquele café
contigo
não durmo direito. -
esquenta quando ela tenta
ferve quando ela ama
queima quando ela teima
arde quando ela chama. -
Sempre acorda ao lado da mesma estranha.
-
na frente
ela senteatrás
tanto fazem cima
ela animaembaixo
me encaixopor fora
ela adoralá dentro
me envolvoposição ideal é a gente
se virando do avesso
pra fazer de novo. -
sou a favor
do seu corpo
contra o meu. -
e o que
a chuva
sente
caindo
ao som
de gente
dormindo? -
inocentes
até que se provem
ao contrário. -
das sete bilhões
e sei lá quantas
possibilidades
respirando agora
você acabou
nascendo vocêo que te impede
fisicamente
de ver a si mesma
por um lado diferentee ao espelho
te limita
para admirar
o corpo no qual
você habitamas isso é só até
inventarem
algum aparelho
que te permita
ver ao vivo a carne
em que você morapara enfim você
acreditar em mim
e ver como é bonita
a sua vista
aqui de fora. -
sou tomada
carregada
na voltagem
da tua risadasou potente
o equivalente
à força da tua
gargalhadasou motor
movido
ao vapor
da tua alegriasou bateria:
antes vazia
agora viciada. -
a vontade
de estar
com você
à vontade. -
pelo segredo do seu dedo
subo através dos seus pés
para alcançar o calcanharescalando toda tua canela,
paro parelho ao seu joelho:
fixo no nexo das suas coxasnadando até a ilha da virilha
chego à aventura da cintura
onde faço um trato comigo
de não cair no seu umbigo
mesmo que ele siga pelo meio
da sua barriga e me leve ao seioassim eu posso marcar o solo,
que é para voltar ao mesmo lugar
depois que passar pelo seu colopois sempre me perco no esforço
que faço para sair do seu pescoçoe no fim te deixo
na dobra do queixo
a vontade de nunca
sair da sua nucapra continuar
viajando nessa
trilha macia
que é massagear
a sua geografia. -
ainda ___
consigo
te dizer ___. -
Má me quer.
Bê me quer. -
suas coxas
quinze pras três
e minha língua
lentamente
anti-horária. -
— I’ll leave you.
— Que alívio. -
Enfim, tirou ela da cabeça.
-
pra mim era concreto.
pra você, cômodo. -
embora não queira
vou embora não
queira vou embora
não queira vou
embora. -
ninguém tem tempo
pra ninguém tem
tempo pra ninguém
tem tempo pra
ninguém. -
um dia tão bonito
lá fora
e a gente aqui
na Terra.